sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sexta-feira aleatória: Minha fama de “reclamona”

Aqui em casa eu tenho fama de reclamona. Reclamo porque está muito calor. Reclamo porque o trânsito está cada dia mais cheio de idiotas. Reclamo porque não acho o carregador do celular. Reclamo porque o almoço não ficou gostoso. Calma. Não. Não reclamo sobre isso.

Eu gosto de cozinhar. Gosto de comprar livros de receitas importados e esperar ansiosamente eles serem entregues pela Amazon. Gosto de ficar fuçando receitas online e salvando-as no Pinterest. Gosto de assistir programas de culinária. Gosto de comprar utensílios novos para usar na cozinha. E, acima de tudo, gosto de comer. Mas comer comida gostosa. Comida bem feita. Comida feita com carinho. Comida saudável. Comida bonita. Comida cheirosa.

Era um domingo que prometia ser muito cheio de atividades, como todos os domingos aqui. Mas aquele domingo era especial, porque era o domingo em que almoçaríamos fora – algo raríssimo – para comemorar o aniversário da minha avó.

Chegamos no restaurante. Um daqueles que vivem cheios e que por fora é um daqueles restaurantes que pagam de gatinho, sabe? Daqueles que usam roupa da Abercrombie, malham o abdômen e os braços todo dia. Postam fotos no Instagram com qualquer pose que sirva de desculpa para mostrar a) as roupas novas, b) os braços malhados, c) o tanquinho, d) a língua. Meninos que pagam de gatinho tem trocentos seguidores – ou seguidoras? – nas redes sociais. Restaurantes que pagam de gatinho, também.

São bem localizados. A fachada deles é bonita. A calçada é limpinha. A hostess é simpática e sorridente e logo te arruma uma mesa. Os clientes são bem arrumados. O cardápio é farto.

Aí, você entra, se senta e faz seu pedido. Lê o cardápio e nota que ele foi bem escrito e detalhado. A entrada é uma salada de abobrinha grelhada com molho de redução de aceto balsâmico ou uma salada verde super incrementada. O prato principal é um risoto de tomate, coração de alcachofra e damasco ou um tagliatele integral com molho de queijo e manteiga. A sobremesa é uma taça de morangos flambados com sorvete de creme. Lindo. Delicioso. Cheiroso. Apetitoso. Saudável.

Só que não.

Na sua terceira garfada na salada verde, você descobre que uma lagarta ainda mora ali.

Seu risoto, além de frio, parece que foi feito no dia anterior e não se parece EM NADA com um risoto.

Sua massa com molho de queijo não passa de um macarrão sem graça e sem gosto.

Seus morangos flambados não foram flambados coisa NENHUMA e o sorvete de creme veio parecendo uma sopa.

Você olha para os lados e vê que todas as outras mesas estão comendo com gosto, se deliciando e rindo. Hum. Estranho.

Você paga sua conta (cara), sai do restaurante com fome, com raiva, com nojo e, acima de tudo, com orgulho da sua própria comida. Comida feita com ingredientes bons, frescos, limpos. Comida que tem sabor, que tem cor. Comida que respeita a receita, que promete e cumpre.

Minha conclusão: as pessoas aceitam comer qualquer porcaria (e pagar caro) simplesmente porque elas não sabem cozinhar ou porque passaram a vida inteira comendo porcarias e não sabem mais diferenciar quando um restaurante ridículo na Av. Brás Leme, zona Norte de São Paulo, está lhes servindo refeições de qualidade nula.

Eu reclamo muito às vezes, admito. Mas eu reclamo simplesmente porque não consigo viver recebendo passivamente as coisas, sejam elas refeições mal-feitas ou notícias do jornal ou propagandas machistas na tv. Não dá pra viver sem parâmetros e quando a gente tem parâmetros, temos criticidade.

Não adianta pagar de gatinho (a) se você não cumpre o que promete. Forma e conteúdo precisam andar juntas.


Viu, Dona Carmela?


Um comentário:

Anônimo disse...

Tá certíssima, Carol. Pagar caro por um serviço sem a qualidade prometida não dá, tem que reclamar mesmo. E deve ser ainda mais frustrante pra alguém que sabe como comida bem feita é.
De qualquer forma, seu blog é ótimo, os textos são muito bem escritos sempre e as receitas são uma delícia. Parabéns!